“Tudo o que aprendo no curso de Agroecologia em uma semana eu divido na semana seguinte com meus tios e com meus vizinhos”. A afirmação da estudante Bruna Jéssica Campos, 15 anos, é a tradução literal da Pedagogia da Alternância, aplicada no currículo da Educação em Mato Grosso. Alternância significa o processo de ensino-aprendizagem que acontece em espaços e territórios diferenciados e alternados. O primeiro é o espaço familiar e a comunidade de origem. Em segundo, a escola onde o educando partilha os diversos saberes que possui com os outros atores e reflete sobre eles em base científica.
Jéssica é um dos 66 estudantes matriculados no curso de Técnica em Agroecologia desenvolvido pela Escola Estadual de Terra Nova do Norte, instalada a 55 quilômetros da sede do município. As atividades são realizadas por duas turmas, de 1º e 2º ano do Ensino Médio Integrado Profissionalizante. A Escola Estadual conta com equipe de cinco professores (sendo um deles um engenheiro agrônomo), além dos profissionais da gestão administrativa. No total, a Escola atende a 11 comunidades rurais distintas, sendo que algumas estão situadas a até 70 quilômetros da sede da escola.
Para Bruna Jéssica, uma escola que tem como doutrina a valorização dos saberes da terra propicia que o trabalho de sua família, da comunidade onde mora (9ª Agrovila de Palmeiras, a 15km da escola), seja aperfeiçoado diariamente. “Antes eu fazia um curso normal, mas confesso que este é bem mais atrativo. Eu vejo, eu sei como fazer e onde aplicar o que aprendo”, avalia. Ela ainda pontua “aqui eu posso trocar experiência com meus colegas, porque temos um mesmo interesse. Não pretendo deixar o local onde moro. Tenho perspectivas de melhorá-lo”.
No currículo do Curso Técnico de Agroecologia constam atividades do currículo integrado a Base Nacional Comum (4 horas diárias), além das disciplinas técnicas, e as práticas desportivas e de lazer. A semana de inserção na unidade é muito rica e as atividades são desenvolvidas das 6h às 22h. Os alunos desenvolvem ainda atividades de estudo individualizado, monitorado, e em grupos, além de possuírem tarefas junto a organização do ambiente em que residem, já que passam uma semana em regime de internato na escola e a outra semana em casa, aplicando na prática o conteúdo debatido na unidade escolar.
O diretor da Escola, Valter Kum, explica que a proposta para 2012 - além da expansão do número de salas de aula -, é fazer o monitoramento do trabalho dos alunos in loco, visitando as comunidades atendidas pela escola. Ele explica que a Pedagogia da Alternância é uma das estratégia empregadas para valorização da agricultura e, consequente, redução do êxodo rural. O processo é desenvolvido em parceria com as cooperativas que atendem as comunidades e assentamentos. “Nosso trabalho é focado em preparar para o gerenciamento, organização da propriedade, agregando conhecimentos técnicos e científicos que vão melhorar a produção e ainda gerar a diversificação das culturas, claro, agregando o respeito à questão ecológica”, sintetiza.
Ele ainda explica que a comunidade fez uma doação de uma área de 17 hectares para produção do conhecimento na prática. Usando uma horta em forma de mandala, os alunos aprendem a melhor empregar o espaço e a diversificação de culturas. “Na área central temos a criação de galinhas, para a produção de ovos, nos primeiros anéis temos as plantações de hortaliças e depois as leguminosas.”Nosso foco não é a produção e, sim, a diversidade de conhecimento para que possam reproduzir no sítio, na comunidade onde vivem”. O que é produzido é consumido, em grande maioria pela unidade, o que é excedente termina sendo comercializado em uma pequena feira.
Em Mato Grosso cabe à Gerência da Educação no Campo, ligada à Superintendência de Diversidades Educacionais da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) planejar, organizar, subsidiar e acompanhar as atividades desenvolvidas.
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