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terça-feira, 17 de abril de 2012

Projetos valorizam Festança do Divino e danças do Congo e do Chorado


"Precisamos descobrir o Brasil! / Escondido atrás das florestas, / com a água dos rios no meio, / O Brasil está dormindo, coitado. / Precisamos colonizar o Brasil". As sábias palavras de Carlos Drumond de Andrade convidam a refletir sobre as preciosidades que formam a cultura brasileira, muitas vezes esquecida nos rincões desse imenso País. Em Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital de Mato Grosso, a Festança do Divino, com suas danças do Congo e do Chorado, é uma das mais belas manifestações culturais já vistas no Estado. E, para não deixar que essa preciosidade “adormeça”, já tramita na Assembleia Legislativa de Mato Grosso dois projetos de leis com o objetivo de declarar esses eventos integrantes do Patrimônio Cultural do Estado.

De autoria do deputado estadual Mauro Savi (PR), que em 2010 foi imperador da Festa do Divino, as duas proposições têm como o objetivo valorizar e preservar a cultura de um povo que deu início à história de Mato Grosso.

“Reconhecendo a importância dos vários grupos étnicos, do vasto repertório de expressões, da pluralidade das identidades sociais, dos hábitos e costumes formadores e fomentadores da nossa cultura e ainda a expansão significativa da afeição pelo patrimônio regional é que apresentamos os projetos leis”, justificou o parlamentar.

Mauro Savi ressalta ainda que Mato Grosso é um estado é rico e detentor de uma vasta lista de bens culturais imateriais que devem ser protegidos. “Tradições que sobrevivem como as Danças do Congo e do Chorado, que celebram a identidade de um povo que soube interferir em seu próprio destino, merecem ser valorizadas e preservadas, e este é nosso objetivo”.

Da mesma forma, o parlamentar ressalta que a Festança de Vila Bela da Santíssima Trindade, que homenageia ao mesmo tempo o Glorioso São Benedito, o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade, é hoje um dos ritos mais belos de Mato Grosso. Segundo Savi, a Festança representa memórias de um passado que não pode ser esquecido, que resgata lutas de antepassados e reconsidera o papel dos santos católicos.

O especialista em Educação através do Lúdico, Hosaná Dantas, ao falar sobre a importância da valorização da cultura brasileira, ressalta que “vivemos uma fase que comemoramos o Halloween, mas não sabemos nos aproximar dos festejos do interior do Brasil. Nossa cultura perdeu-se em deslumbramento de outros contextos, que alguém tratou de julgar para nós como sendo a melhor referência. Vivemos o que pode ser chamado de submissão cultural”.

Os projetos apresentados pelo deputado Mauro Savi, na medida em que visam valorizar e proteger tais manifestações culturais, vão ao encontro das preocupações do educador.

A Dança do Congo
A Dança do Congo é, na verdade, um jogo, uma peça teatral onde o elenco é composto por personagens que usam vestes coloridas e espadas de brinquedo. O enredo gira em torno de dois personagens: o rei do Congo, acompanhado de seu filho Canjinjim e de seu secretário de guerra; e o rei de Bamba, representado pelo seu embaixador e seu exército, formado por 12 pares de guerreiros.

A Dança do Chorado
A Dança do Chorado, hoje objeto de admiração e rito cultural, tem sua origem em fatos dolorosos. Dançada exclusivamente por mulheres, as escravas dançavam ao verem seus entes queridos castigados por feitores. O objetivo era atrair a atenção dos feitores e amenizar a pena dos castigados. Assim surgiu o nome Chorado, do choro dos que apanhavam e das escravas que viam.

A Festança
A Festança do Divino, realizada uma vez por ano (normalmente na última quinzena de julho), teve início a partir da transferência da capital de Mato Grosso para Cuiabá, em 1935, quando Vila Bela foi abandonada pelos portugueses e brasileiros brancos, por padres e soldados. Naquela época, permaneceram na região apenas os negros forros, escravos velhos, escravos fugidos e os que zelavam os bens dos senhores.

Hoje é uma grande festa, dividida em duas partes, preparação, caracterizada por reza, folia, levantamento do mastro e alvorada dançante. A segunda parte segue com a reza solene (missa), sorteio dos novos festeiros e os banquetes do dia (almoço e jantar).

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