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domingo, 24 de julho de 2011

A ida de Auro






MÁRIO MARQUES DE ALMEIDA
Ainda envolto em várias especulações sobre a motivação do crime e seu mandante (se é que teve algum!), o assassinato do jornalista Auro Ida, na madrugada de sexta-feira, chocou os profissionais da Imprensa e a classe política, esta a principal "fonte" de informações do repórter - um dos mais experientes profissionais de Mato Grosso, especializado em cobrir a área política. Setor do jornalismo onde pontificava como referência para jornalistas e os próprios políticos.


Via de regra, Auro se integrava bem no próprio meio jornalístico, onde mantinha boas relações profissionais que, em muitos casos, eram mesmo fraternas e de amizade com seus pares e também entre políticos, que tinham nele um interlocutor confiável ao qual podiam confidenciar assuntos, ditos "republicanos" ou não.


Mais ouvia do que falava, como convém a um bom e atento repórter, que ele era. Sabia preservar suas fontes e respeitava os "offs" (pedidos de reserva e sigilo quanto à divulgação do nome do confidente). Razão pela qual se tornou uma espécie de oráculo de muitos políticos mato-grossenses - poderosos, inclusive.


Nem por isso, em função do trânsito que mantinha com ícones do poder político, Auro se portava de maneira esnobe ou com nariz empinado. Era humilde e de comportamento despojado, às vezes despojado demais - o que lhe valia algumas críticas e reparos, de uns, e era visto como virtude, por outros.


Daí, a versão de que a morte de Auro Ida tenha origem em algo relacionado à sua profissão é a menos provável, embora não possa ser descartada. Por enquanto, ilações e comentários que já prosperam no sentido de que o jornalista tenha sido executado em função de alguma reportagem divulgada ou em processo de levantamento de dados e checagem podem ser vistos como meras especulações - motivadas, talvez, pelo clima emocional que seu assassinato gerou ou por outras razões, entre as quais a do sensacionalismo de que alguns ditos "comunicadores" se aproveitam pra fazer, mesmo nesses momentos de tristeza e dor.


Infelizmente, essas coisas acontecem em certo tipo de jornalismo praticado em Mato Grosso e em outras bandas. E nessa voragem pelo sensacionalismo barato, que rende audiência em segmentos da sociedade menos críticos e esclarecidos, não respeitam sequer quando a vítima é alguém do próprio meio, mas passa a ser tratada como "matéria-prima" para bravatas travestidas de "jornalismo".


Já o bom jornalismo, lastreado em premissas realistas, se vê compelido a reconhecer que, até o momento, desconhece-se algum desafeto, aberto ou oculto, de Auro Ida que, por razões de algum tipo de matéria que ele estivesse empenhado em desvendar, fosse levado a encomendar a sua morte a fim de evitar que algum "furo" de reportagem comprometedor viesse a ser estampado pela mídia.


Razão pela qual, a hipótese (e não conclusão, repito) mais provável, factível, é a de que a execução de Auro Ida - lamentável sob todos os aspectos e que merece o mais veemente repúdio - tenha sido mesmo motivada por questões passionais.


O que pode explicar, mas, em absoluto, não justifica a morte do jornalista.


Por isso, a Imprensa está de luto. Nossos pêsames!


MÁRIO MARQUES DE ALMEIDA é jornalista em Cuiabá.
www.paginaunica.com.br
mario@paginaunica.com.br 

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