Jackson diz que sabe de muita coisa( Foto: Gustavo Oliveira) Por: Antonio C Melo
Quem é o jovem Jackson Antonio Monteiro, 22, considerado por muitos policiais como um “caso perdido” ?
Quem é a testemunha de uma “execução” que tem a certeza que será morto ?
Quem é a pessoa que fala que o assalto a lotérica Zebrinha, no último dia 12, no bairro da Santa Lúcia, em Maceió, foi uma emboscada montada por policiais da 1º Companhia Independente da Polícia Militar de São Miguel dos Campos ?
Quem é o rapaz que pode saber muito mais do que tem falado e será que ele vai manter o que tem comentado ao ser interrogado pela Polícia Civil (PC) ?
Onze dias após ficar internado no segundo andar do Hospital Geral do Estado (HGE), se recuperando dos três tiros que recebeu no assalto frustrado a casa lotérica, o jovem natural do município alagoano de Boca da Mata e pai de quatro filhos, todos menores, que vive maritalmente com uma adolescente de 15 anos, residente em São Miguel dos Campos já está na Casa de Custódia, no bairro do Jacintinho.
Manhã da quinta-feira (22)Ao ser liberado do HGE, Jackson, algemado e carregando uma sacola com algumas roupas e produtos de limpeza pessoal, foi escoltado até o setor policial do hospital, onde aguardou dois policiais da Delegacia de Roubos, que chegaram ao local sem acreditar da importância de Jackson para a Polícia esclarecer crimes e mais crimes e até identificar e prender o homem considerado o “senhor do tráfico” da região Sul do Estado, Ênio Samuel Cavalcante de Queiroz.
O EMERGENCIA190 esteve ao lado do preso, que não aceitava conversar com a reportagem. Arredio, ele demonstrava que não confiava em ninguém. Monossilábico, Jackson só deixava claro que vai morrer, ou de um jeito ou de outro e a sua pena capital é irreversível e que nem saindo de Alagoas e entrando no Programa Nacional de Testemunha sua vida será poupada.
“Carocinho”, como é conhecido, é foragido da Delegacia de Campo Alegre, Agreste de Alagoas, desde o dia 23 de janeiro deste ano. Ele havia sido preso dois dias antes, acusado de porte ilegal de arma de fogo. Junto com ele também fugiram José Cláudio da Silva, Genival Cláudio da Silva, Tiago Augusto dos Santos e Elias Carvalho do Nascimento.
Também consta no currículo irregular de Jackson a fuga do presídio Cyridião Durval, em Maceió. O fato foi registrado no dia 19 de novembro do ano passado. Com “Carocinho” também escapou Wanderley Nascimento Ferreira, o “Paulista”, um dos matadores do estudante Fábio Acioly.
A insistência em conversar com Jackson esbarrava na falta de vontade dele falar com a reportagem. Ao deixar o HGE, ele saiu sorrindo, entrou na viatura descaracterizada e foi direto para a Central de Polícia, no bairro do Prado. E foi na Central, onde ele resolveu falar o que queria.
Perguntamos se era verdade que um grupo de policiais em São Miguel dos Campos estava extorquindo traficantes e assaltantes. Antes de concluir a frase “Carocinho” já balançava a cabeça, fazendo sinal de positivo e por fim, disse:
“Eu mesmo já perdi R$ 600 durante uma operação dos homens e depois, outro dia, me levaram R$ 350”, disse ele. Perguntamos se quem matou a jovem Dâmaris Josielle Santos, 19, foi o traficante Ênio Samuel e mais uma vez o preso não hesitou.
“Quem matou a loira foi o Samuel. Eu nunca confiei nela. Ela traia a gente. Eu só andei com ela uma vez, que foi no dia do assalto a loteria. A gente avisava o Samuel, mas ele só descobriu que ela era trairá depois”, confirmou o bandido.
O preso também mantém a denúncia que Daniel Lúcio da Silva, 22, que morreu no suposto assalto a loteria Zebrinha, foi executado pelos policiais.
"A gente caiu na cocó deles. Quando a gente ia saindo os homens chegaram e atiraram nele. O policial perguntou pelo Samuel e o Daniel disse que não sabia e ai o resto vocês sabem", disse ele.
Notando que Jackson já dava sinal de irritação, decidimos fazer a pergunta vital. Quem era Ênio Samuel, o traficante e aliciador de menores temido por muitos assaltantes e viciados em drogas que atuam em cidades do Litoral Sul.
Com a cabeça baixa e por algum tempo com os olhos fechados, Jackson, ainda algemado, começou a falar.
“Ele é muito feio. Se ele parecesse comigo seria bonito. Ele é tem muito dinheiro e não perdoa ninguém. A loira não soube fazer. Ela entregava ele para os pms. Ela tinha um caso com alguns da Polícia. Eu não tinha amizade com ela, o dia do assalto a loteria foi a primeira vez. Foi ela que levou os homens lá. O Samuel tava desconfiado que tava sendo seguido. Ele ainda disse que alguém tava traindo e ia descobrir”, falou Jackson ainda de cabeça baixa.
Perguntamos se ele sabia de algo sobre Dâmaris e em resposta “Carocinho” surpreendeu.
“A loira tinha um caso com o Gilmar (Gilmar Pereira de Lima, morto no ano passado em Arapiraca-AL) que mataram. Ela dedurou ele aos homens (policiais). Ela tinha um caso com um ... não sei ao certo, se tenente, sargento ... não sei. O Gilmar tava devendo um dinheiro a eles e a loira entregou o cara. No dia da morte os homens saíram de São Miguel e foram lá na casa dele em Arapiraca, mas pediram para ela sair de casa e ela foi na casa do pai dela. Mataram o cara lá em Arapiraca. Depois ela teve um caso com o “Negão da Barra” (Eyder Monteiro de Toledo). Um dia ela disse para ele que tinha uma parada boa e quando ele foi lá, terminou sendo preso com o Vanderson (Vanderson Simeão Santos, preso em agosto do ano passado). Depois disso ela conheceu o Samuel e terminou nisso ai”, concluiu o preso.
Jackson repetiu que não tinha amizade com Dâmaris e que somente ouvia falar dela, apesar de conheça-la.
“Só tive com a loira no dia da morte do Daniel. Eu e ele, a gente, foi com ela até a casa do pai dela. O Samuel também foi, mas a gente ficou longe... perto da cidade, a gente entocou o carro e ela pegou uma moto, foi e voltou e depois a gente veio pra Maceió pra bronca”, revelou o assaltante.
Ele enfatizou ainda que, tomou conhecimento de um suposto plano elaborado por Samuel para evitar ser indiciado na morte de Dâmaris.
“Não me pergunte por que eu não vou dizer como eu soube, mas o Samuel já acertou com o “Nego da Barra” para ele assumir o crime se for pego. Ele (Samuel) tá eliminando todas as pistas e colocando para cima do “Nego” que se for preso já tem advogados pagos pelo Samuel para inocenta-lo e se for para o presídio ele vai fugir. Tá tudo acertado”, declarou Jackson que ao ser perguntado como ele analisa as opiniões ao contrário sobre suas declarações, mais uma vez o jovem foi enfático.
“Eu sou pobre e não tenho onde cair morto e serei morto, pode anotar ai... Mas o que estou falando é a pura verdade. Eu sei de tudo porque participei de muita coisa. Eles (a Polícia) é que não sabem de nada. São ótarios. Olha... eu não quero mais falar nada”, finalizou Jackson.
Jackson responde, ao todo, seis processos criminais. Dois por tráfico de drogas na comarca de Boca da Mata, um pela suposta tentativa de roubo a casa lotérica na Santa Lúcia na 2ª Vara Criminal da Capital, um por homicídio no município de Marechal Deodoro e dois em São Miguel dos Campos.
O EMERGENCIA190 recebeu uma informação, ainda na Central de Polícia, que Dâmaris havia sido vítima de Crimes contra os Costumes e que o caso estava na 3ª Vara Criminal de São Miguel dos Campos. A informação foi repassada por um policial que pediu anonimato.
Para confirmar a informação fomos até o Fórum da cidade e lá localizamos o processo número 053.07.000132-7. O processo tem como vítimas, além de Dâmaris, Daniela Maria da Silva, Valquicilânia de Sousa da Silva e Angélica Gomes da Silva e figura como indiciados Jorge Gouveia de Oliveira, Carlos Fernando da Silva Filho e Edson Bastos Aciole.
Por sua vez o delegado Alcides Andrade, de Marechal Deodoro e que investiga a morte de Dâmaris deve ouvir Jackson nos próximos dias. Bastante comedido, o delegado disse que não existe ainda uma linha concreta de investigação.
Na opinião dele a jovem pode ter sido vítima de crime passional, queima de arquivo ou até outro motivo. Sobre as declarações do preso de que um grupo de policiais militares estariam extorquindo criminosos na região de São Miguel, o caso deve ser investigado pelo delegado do município.
Um dos policiais que investiga a morte de Dâmaris foi mais categórico ao conversar com oEMERGENCIA190.
“São muitas informações, algumas fantasiosas e outras nem tanto. De certo, esse Jackson terá que se explicar a Polícia sobre suas declarações. Ele é muito perigoso e pode tá fantasiando tudo isso para ser a atração dessa história. Temos que ter muito cuidado”, disse o policial que acrescentou que em relação ao traficante Samuel o que a Polícia possui são informes, mas admite que ele é um bandido que vai ser preso.
Renato Rocha, ex-baixista da Legião Urbana, está vivendo há cinco anos como sem-teto nas ruas do Rio de Janeiro.
